sábado, 17 de novembro de 2012

Relacionamento é o que Vale

 
 
Miguel Levy
 
E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.
E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.
E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém.
E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu.”
Atos 9:1-9
 Sempre que paro meditar no texto que narra o início do processo da conversão de Saulo fico imaginando o que passou na cabeça dele a partir daquele dia. Saulo era um homem culto, bem instruído, conhecedor e praticante da lei. Um homem que acreditava que todo o seu empenho o qualificava a um lugar muito próximo de Deus. Defender a sua religião e sua crença a qualquer custo, mesmo que para isto fosse necessário até matar pessoas. Qualquer ameaça à tradição religiosa seria rapidamente combatida, como aconteceu aos primeiros movimentos do cristianismo.
A Bíblia diz que Saulo dedicou-se a perseguir os cristãos e foi o responsável pela morte de Estêvão (At. 7). Em Atos 9, vemos que Saulo saía em mais uma missão de defesa da Lei e, talvez aos seus olhos, de Deus também. E foi nesse clima, respirando ameaças de morte aos seguidores do Caminho que o inesperado aconteceu. Uma luz brilhou e Saulo caiu, provavelmente de um cavalo, mas o fato é que ele foi ao chão e ouviu uma voz que dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. A resposta de Saulo demonstra tudo o que queremos meditar com este texto. Ele respondeu: “Quem és tu, Senhor?”. Sou obrigado a perguntar como alguém que esta agindo em nome de Deus, convicto de que esta obedecendo a vontade de Deus não reconhece a voz de Deus? Os discípulos, amigos e chegados a Deus certamente identificam sua voz (Jo. 10:27). É uma prova evidente de que muitas vezes podemos estar muito equivocados em relação ao nível de relacionamento que achamos que temos com Deus. Quando Jesus respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues;”, eu creio que deve ter acontecido um choque dentro daquele homem que nunca imaginaria estar perseguindo, Jesus. Afinal de contas não foi para Jesus a autorização de perseguição e captura que Saulo obteve antes de sua saída.
O fato importante aqui é que para qualquer um de nós é muito, muito fácil de iludir com o que dogmas religiosos e tradições de leis caducas podem nos apresentar como Deus. Por algum motivo somos mais tendenciosos em acreditar que Deus está muito interessado em nossas milaborantes aventuras em seu nome e que é o resultado do nosso desempenho que irá nos deixar bem próximos de Deus. Ora, nem quando a Lei vigorava isso foi possível, imaginem agora, quando a graça salvadora se revelou ao homem mostrando que nenhum de nós teria um desempenho capaz de promover salvação para sua vida.
No texto que estamos meditando vemos que embora estejamos muito envolvidos no que acreditamos ser a obra de Deus, podemos não ter nem ideia de quem seja Deus, uma vez que não conseguimos nem identificar sua voz quando fala clara e diretamente conosco. É possível viver enganado buscando apresentar obras a Deus, enquanto ele apenas busca relacionamento com cada um de nós.
O que precisamos é ouvir Deus e identificar a sua voz mostrando o relacionamento íntimo e estreito que temos com ele. O que precisamos é para um pouco de pensar em sermos abençoados pois as bênçãos que precisamos Deus já nos deu antes mesmo que pedíssemos. Afinal de contas, ser abençoado não significa conhecemos Deus como ele quer que o conheçamos. O lendário Jó, era tão abençoado que ele não tinha tempo para mais nada além de ser a personificação da bênção de Deus na terra. Até que um dia, por vários motivos, ele teve tempo de conversar com Deus. Deus o chamou para um bate-papo, para trocar ideias. No final ele afirmou que realmente não conhecia Deus. Mas foi a partir do conhecimento de Deus que as bênçãos de Deus passaram a fazer sentido em sua vida.
Uma vida religiosa e cheia de afazeres eclesiásticos pode ser a grande ilusão da nossa vida quando não conhecemos, não temos intimidade ou um relacionamento chegado com o Deus que servimos.
Para nós, mostrar muito serviço pode nos deixar bem conosco e com as pessoas que nos observam para construir um perfil que poderá nos deixar com muito prestígio, assim como acontecia com Saulo. Mas para Deus, na verdade, relacionamento é o que vale.

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