segunda-feira, 12 de abril de 2010

TUDO TEM PREÇO!?



Preço é um conceito muito comum em nossos dias. Afinal de contas, na geração shopping center podemos encontrar tudo nas prateleiras e vitrines. Conseguir só depende de quanto se pode pagar para satisfazer nossos desejos. O mundo na verdade é um grande mercado que movimenta mercadorias e serviços de um lado para outro. Temos aprendido com essa cultura que podemos conseguir qualquer coisa que tenha preço, basta juntar a quantidade suficiente de moeda e pronto. O negócio esta feito.

Essa é a idéia passada para nós e muitas vezes nos deixamos levar com esse sentimento mercantilista e acreditamos que no reino de Deus as coisas funcionam da mesma forma. Mas nunca é demais lembrar de Romanos 12, onde o apóstolo Paulo nos exorta a não nos conformarmos com a cultura do mundo. Isso é a cultura do mundo.

Em João 3, vemos a história narrada de um príncipe, um homem influente, Nicodemos, que procurou Jesus em busca de vida eterna, perguntando o que precisaria ser feito para consegui-la. Talvez aquele homem estivesse perguntando qual o preço da vida eterna, de repente eu poço pagar. Jesus deixou bem claro que não se tratava de preço e sim de valores.

Enquanto estávamos na condições de pecadores sob o domínio do inimigo, pudemos ver de forma bem evidente essa diferença entre preço e valor. Havia um preço a ser pago para nossa redenção. Um preço que por ser muito alto, Satanás talvez não esperasse que alguém pagasse o que garantiria nossa escravidão eterna. Em Hebreus 10, vimos que esse preço foi pago e através do sangue de Jesus fomos resgatados do império das trevas para um reino de paz, e uma vez resgatados, a igreja de Jesus Cristo não foi colocada em uma prateleira ou vitrine para mais uma vez ser negociada. Deus a guardou em um lugar seguro, uma espécie de cofre celestial. Em um lugar chamado Cristo (Colossenses 3).

Esse fato por si só já é suficiente para entendermos o interesse de Deus por nós, mas meditando mais um pouco podemos ver com clareza qual é o sentimento de Satanás em relação ao homem.

Quando nos dispomos a precificar qualquer coisa, a colocar um preço em algo, é porque já estamos dispostos, decididos a ficar sem aquilo. É porque não temos qualquer laço afetivo e acreditamos obter alguma vantagem pessoal nessa troca. Quando atribuímos um valor a alguma coisa em nossa vida nos referimos a coisas inegociáveis. Sem preço, ou seja, coisas que não estamos dispostos a abrir mão por qualquer que seja a retribuição oferecida. O que tem valor não tem preço. O que tem preço já perdeu o valor e pode ser substituído por qualquer tipo de moeda.

Na cultura do mundo, tudo tem preço, pois o legislador desse mundo é um grande negociador, frio e sem qualquer sentimento afetivo, que busca unicamente a vantagem pessoal. Quando colocou preço no homem, mostrou que não havia qualquer tipo de afeto por ele. Quem pagasse levaria a mercadoria. Essa cultura é diabólica.

A Bíblia nos ensina que existem coisas que tem valor para Deus. A igreja, comparada como a menina dos olhos de Deus, como tesouro escondido. Tesouros só são escondidos porque não estão a venda em função do valor inestimável que possuem. Deus não esta disposto a negociar nossas vidas. Uma vez resgatados, redimidos e justificados não existe mais preço a ser pago nem ao diabo nem a Deus. O que existe é um valor a ser preservado.

Não se compra bênção, não há preço para salvação, não há negociação para cura, as dádivas de Deus nos foram dadas pela graça. Fomos chamados para a liberdade e como Paulo escreveu aos gálatas, todo escrito de dívida que havia contra nós foi pago na cruz do calvário. Para o cristão, a última negociação foi feita na cruz. De lá para o futuro só nos resta viver os benefícios da graça salvadora.

Fomos libertos das correntes que nos prendiam, não precisamos mais entrar em correntes para conseguir bênçãos de Deus. Todo o preço foi pago na cruz, não precisamos mais pagar preço algum. Se não renovarmos nossa mente em relação a esse assunto, vamos oferecer Jesus aos homens e logo em seguida vamos passar o preço para ter esse Jesus. Penitências, sacrifícios, indulgências... nada disso corresponde a doce presença de Jesus em nossa vida.

A misericórdia de Deus e seu amor se revelaram a nós quando ainda não estávamos nem convertidos a ele (Efésios 2). Em 2 Pedro 1, vemos que Deus já nos deu tudo o que precisamos para esta vida antes que tivéssemos a possibilidade ou oportunidade de pagar qualquer preço.

Quando estamos com amigos em um restaurante e desejamos pagar a conta sem deixar qualquer chance para nossos amigos, não esperamos que a conta seja colocada na mesa, nos antecipamos e pedimos a conta em segredo e a liquidamos. Não damos chance para que nossos amigos se preocupem, insistam ou fiquem constrangidos. Deus fez da mesma forma, se antecipou a nós, não esperou que estivéssemos perfeitos, justificados ou santos. Nos abençoou antes e nos comissionou depois. Não consigo ver após a redenção um Deus negociador, cobrando taxas, impostos ou impondo preço para as suas bênçãos. Tudo esta consumado. A fatura foi liquidada.

Temos que ter essa consciência para que não sejamos levados por falsos mestres que como disse o apóstolo Pedro em sua carta, negociam a fé das pessoas, se aproveitam da falta de conhecimento do povo e alimentam a ganância que segundo o apóstolo Paulo, tem aprisionado o homem em si mesmo, focando em seu próprio umbigo, e promovem uma bolsa de valores e investimento utilizando o nome de Deus para avalizar a negociação.

No mundo tudo pode ter preço. Na igreja de Deus, não! Nossa fé, nossas convicções, o compromisso de Deus conosco, o amor fraternal. Nada disso tem preço. Pois não estamos dispostos a nos livrar disso por nada. Parafraseando o apóstolo Paulo, nem coisas do presente nem do por vir, nem principados nem potestades, nem anjos ou qualquer criatura. Nada pode comparar o que para nós tem um valor do tamanho da eternidade. E que no final da jornada possamos repetir a oração de Paulo: “combati o bom combate, acabei a carreira e [não me corrompi, não negociei] guardei a fé”.

Miguel Levy

quinta-feira, 8 de abril de 2010

QUE CEIA!



Quando falamos em ceia, é muito comum vir em nossa mente aquela imagem de uma ceia de natal. Uma mesa farta, muita cor e rodeada de amigos e gente feliz. Mas essa é uma cena que para nós até ficou comum. É mais uma comemoração que fazemos periodicamente. Contudo, quando penso na origem de tudo isso, sou obrigado pelos fatos históricos a me reportar ao que chamamos de a última ceia de Jesus. Fato que inspirou artistas em todo o mundo por ser considerado um acontecimento bastante peculiar. É justamente nesse cenário que desejo entrar.

Os discípulos de Jesus certamente já haviam sido avisados a respeito do que estaria para acontecer naqueles dias. Jesus havia predito sua morte e sacrifício, como parte do propósito de sua vinda, mas é claro que isso não é digerido facilmente. Pense bem, ninguém aceita fácil ou de forma natural que alguém sadio e em plenas condições de vida, no auge do seu vigor físico de repente comece a falar que vai morrer, e ainda mais, ser preso, torturado e martirizado antes disso até chegar ao cúmulo da humilhação humana na época, uma morte de cruz, até porque ele não tinha cometido até o momento nada que pudesse condená-lo a isso. Não. Eu estou certo que ninguém assimilou esse fato. A ficha definitivamente não havia caído.

O outro lado da história era Jesus, plenamente convicto da realidade dos fatos e acontecimentos que estavam por vir. Imaginem esse cenário. Jesus e os seu discípulos. Ele sabendo que seria sua ultima refeição e os discípulos não tão certos disso poderiam estar encarando isso como mais uma refeição. Parece pouca coisa mas há uma diferença fatal entre eles.

Deixando os discípulos de lado, afinal de contas era mais uma refeição mesmo. Vamos pensar um pouco no que Jesus poderia ter pensado. Isso para ser bem impessoal e não afirmar o que EU teria pensado.

Essa é minha ultima oportunidade de fazer uma refeição em minha vida. É justo que depois de tudo, ou antes de tudo já que a pior parte estaria por vir, eu tenha o direito de fazer algumas exigências: a) Posso me dar o direito de comer tudo sozinho e deixar todo mundo só olhando, afinal de contas, passei a vida inteira dividindo tudo com essa gente, eles terão outras chances e eu preciso estar bem alimentado para suportar o dia difícil que terei; b) Posso exigir ficar sozinho nesse tempo, ou escolher outras pessoas para me acompanhar, afinal de contas em meio a esses discípulos tem na melhor das hipóteses um traidor, um covarde e os melhores que sobram são no mínimo medrosos e omissos pois vão me deixar sozinho o tempo todo.

É claro que poderíamos passar muito tempo imaginando o que faríamos em uma situação igual, mas a grande diferença é que o homem em questão era Jesus, que se fez homem igual a nós e foi encontrado dessa forma (Fil 2) e esse fato faz toda a diferença. Diante da possibilidade de transformar aquela refeição em um festival gastronômico de glutonaria e desperdício, até aceitável devido as circunstâncias, ele cumpriu o seu papel de mestre e nos deixou uma lição. O sentido da ceia, mais tarde chamada por Paulo de a Ceia do Senhor (1 Cor 11). Refeição podemos fazer sozinhos, buscando satisfazer nossas necessidades mais primitivas, mas a Ceia do Senhor só pode ser realizada em grupo, pois o seu fundamento reside no compartilhar o mesmo pão e beber do mesmo vinho. A natureza de Cristo nunca permitiria que ele se desse ao direito de se fartar sozinho, mesmo que esse pão custe a sua carne e esse vinho seja o seu próprio sangue. A maior de todas as ceias estava por acontecer e a grande mesa seria posta verticalmente em forma de cruz lá na sala chamada calvário. Ali sim, Jesus estaria sozinho, pois seria o sacrifício de um em favor de muitos.

Estar cercado de gente é vital para quem é amor em sua essência, mesmo que essas pessoas não sejam o melhor padrão de moral e virtude, ou melhor, pensando como Cristo, talvez esses sejam os mais indicados para estarem em sua companhia dando total sentido ao paradoxo da cruz.

A satisfação da ceia não é sair completamente saciado desconsiderando alguns que nada comeram (1 Cor 11). Mas sim, ter a certeza de que não comemos tudo mas que todos participaram do mesmo pão. Sair realizado por ter sido partido contradiz o sentido natural de segurança que busca na preservação individual a condição de satisfação.

Na ultima refeição da vida, Jesus se satisfez partindo o pão que poderia ser só dele. Podemos entender melhor o que aconteceu em João 4 quando Jesus com fome e sede, ao ser convidado para comer nos ensinou que sua alimentação consistia em fazer a vontade do Pai. O propósito de Deus e o compromisso com o seu Reino mais uma vez salta na lista de prioridades de Jesus, gritando aos nossos ouvidos que devemos fazer o mesmo.

A ceia do Senhor. Uma refeição simples, mas com um sentido eterno. Cercado de pessoas comuns e imperfeitas Jesus mostrou que o reino de Deus não é comida nem bebida, mas paz, alegria e justiça. Que se desejamos estar prontos para tomar a nossa cruz e segui-lo até o fim, não precisaremos estar de barriga cheia. Só basta ter a convicção de que nossa ceia foi bem repartida e compartilhada com todos, mesmos os que temos certeza que não merecem.

Quando penso que eu faria totalmente diferente, me alegro porque Jesus soube administrar de forma cristã esse momento. Tiro meu foco do evento, da refeição, da cerimônia, e quando celebro a Ceia do Senhor na congregação com meus irmãos lembro como Jesus viveu aquele momento e tenho que exclamar... QUE CEIA!

Miguel Levy