Miguel Levy
Mais
um período de carnaval se passou e tive o prazer de poder falar com alguns
jovens em retiros diferentes. Sempre
considero um privilégio ainda ser chamado para falar com jovens que de alguma
forma consideram importante o que podemos trazer a eles no sentido de
esclarecer algumas dúvidas.
O
difícil e até certo ponto doloroso e constatar que se tratando de jovens
cristãos, atuantes em nossas igrejas, não percebemos um avanço no estado de consciência
cristã de nossos jovens. Me refiro a jovens para não deixar mais comprometida a
nossa situação como líderes e pastores.
Já
perdi a conta de quantos encontros de jovens planejados para com temas
inspiradores onde há na programação uma sala de debates, um bate-bola, uma
berlinda, uma mesa redonda para dar a oportunidade dos participantes
perguntarem um grupo de lideres ou pastores de confiança as mais variadas
perguntas que afligem a mente sedenta da juventude em questão. Ao ser convidado
para fazer parte do grupo que será sabatinado tenho vivido duas sensações. A
primeira é a costumeira tensão sobre a possibilidade de ficar acuado diante de
uma bomba que pode surgir em meio as perguntas. A segunda é o alívio no final
ao perceber que nos saímos sem nem precisar abrir a caixa de ferramentas.
Ultimamente, surgiu a terceira sensação. O desconforto em perceber que nós,
líderes e pastores não estamos fazendo o dever de casa com nossos jovens no
sentido de leva-los a viver a liberdade proposta pelo evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Podemos
preparar o começo da maioria das perguntas em casa e levar impresso sem medo de
perder o papel. É PECADO...? ...pircing e tatuagem, ouvir música secular,
ficar, ir para balada, tomar umas, namorar com “descrente”. Pode isso? Pode
aquilo? Ou o que é pior: Já pode isto...?
O
que me incomoda não é o fato de responder as mesmas perguntas mil vezes, nossa
função é esta. O que é preocupante é que a maioria esmagadora das perguntas dos
jovens sempre é de caráter comportamental, mostrando claramente que a preocupação
dos nossos jovens consiste em buscar um padrão de comportamento que garanta a
sua aceitação diante da igreja e de Deus. Vemos com isso que ainda estamos
longe do que representa o evangelho para o homem. Novidade de vida, nova
criação, natureza recriada, salvação.
Ainda
estamos ensinando que é através de um personagem que agradamos a Deus, levando
as pessoas a buscarem uma lista que possa licencia-los a viver seguindo regras
sem qualquer compromisso com a razão cristã, consciência do Deus que é em nós
ou entendimento da graça salvadora. Pela falta de tempo a ser dedicado no
evangelismo, sim entenda evangelismo como o chamado para moldar o homem ao
evangelho, discipulado com comunhão e acompanhamento próximo dos nossos filhos
na fé, continuamos exigindo fidelidade cega e irracional a listas de pode e não
pode, manuais de conduta comportamental que são atualizados periodicamente,
inserindo e retirando coisas conforme a necessidade do momento. Daí a constante
dúvida do jovem sobre as atualizações desta lista. Já liberaram a televisão mas
incluíram a internet? Não pode ir ao cinema, mas assistir o mesmo filme em
casa, pode?
Estamos
criando jovens muito eficazes em representar seu papel dentro das comunidades
evangélicas que vivemos mas pouco eficientes em cumprir a missão da igreja no
mundo.
Talvez
por comodismo, estamos promovendo uma mecanização do evangelho reduzindo o
sentido da vida cristã a um mero cumprimento de regras, que não levam as
pessoas a buscar sua missão como cristãos no mundo, procurando afetar as
pessoas com a vida abundante recebida de Jesus.
Estamos
levando as pessoas a se ocuparem com elas mesmas na constante checagem de suas
listas comportamentais. Nossos jovens tem se isolado da sua responsabilidade em
comunicar Cristo, o evangelho, as boas novas aos seus próximos. Me surpreendo
ao ver tanta coisa acontecendo ao nosso redor, tantos temas onde a igreja
poderia intervir de forma a chamar a atenção do mundo para Deus.
Creio
que estamos como um operário que trabalha em uma imensa fábrica, limitando-se
apenas a realizar sua focalizada tarefa, mas muitas vezes sem nem ter ideia do
que está sendo construído como produto final. Um barco, um carro ou um avião? O
que importa? Se somos eficazes em nossa rotina é o que basta.
Não
podemos fugir da responsabilidade que está sobre nós, em formar uma igreja de pessoas
reais transformadas por Deus para afetar a terra. Conscientes da natureza que
temos, convictos da salvação em Cristo e focados na nossa missão como igreja. Apresentar
um projeto de redenção para o mundo de hoje a fim de poder sua garantia em Deus
na eternidade. Nossa missão é expressar em nosso tempo uma realidade que se
consumará na eternidade. Não podemos fazer isto sem uma visão ampla do plano de
Deus para o homem. Não podemos fazer isto focados em padrões comportamentais
que não refletem transformação de natureza.
Ainda
espero chegar em debates de jovens onde as perguntas não serão mais sobre o que
posso ou não posso fazer para ser identificado no cenário gospel evangélico,
mas como podemos afetar o mundo como jovens cristãos.
Que
Deus me dê muitos anos de vida.