sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

NÚMEROS OU NOMES?


NÚMEROS OU NOMES?


Como leitor persistente das cartas paulinas é natural que com o tempo alguns pontos e características desse apóstolo logo fiquem bem claro e em função disso passamos a considerar mais ainda o nosso amado apóstolo quando com muita ousadia e coragem incisivamente afirmou admoestando-nos para que fossemos seus imitadores, assim como ele próprio era de Cristo (1 Cor 11). Qualquer um chamaria de presunção, mas nós reconhecemos que era autoridade de quem vivia um evangelho sem alegorias e maquiagens comprometido apenas com a mensagem da cruz (1 Cor 1) e com o seu alvo. Cristo.

Mas o que me faz pensar e meditar é o fato de Paulo, mesmo sendo pioneiro na pregação do evangelho da Graça, que a cada dia deveria desbravar uma batalha inédita e suplantar desafios inconcebíveis para os nossos dias, tinha um cuidado muito especial com pessoas. Gente.

É impressionante como o apóstolo fazia questão de mencionar NOMES e ainda uma característica pessoal de cada um dos irmãos com quem havia compartilhado parte do seu ministério. Podemos ver bem evidente essa característica nas cartas aos romanos, colossenses, Timóteo, e o que dizer de Filemom, onde teve o cuidado de interceder por Onésimo, seu “filho gerado em algemas” ? Notamos não apenas referências nominais mas um cuidado e carinho característico de quem faz questão de mostrar que cada pessoa citada era importante. O relacionamento pessoal é colocado acima de muitas prioridades. Há um fato onde ao chegar a Trôade para pregar o evangelho não encontrou seu irmão Tito e esse fato não o deixou em paz fazendo-o partir para a Macedônia (2 Cor 2).

Precisamos entender, ou no mínimo crer que o ministério que Deus nos confiou é destinado a pessoas. Gente é o alvo do nosso serviço. Isso mesmo, serviço. Se deixássemos de usar a palavra ministério para usar a palavra serviço, talvez tivéssemos maior clareza e menos arrogância em relação ao que Deus nos chamou e a quem nos chamou a servir.

O relacionamento interpessoal de Paulo era reflexo do seu discipulador e padrão de caráter, Jesus. O mestre em relações humanas que sabia como era importante dar atenção as pessoas a quem servia. Jesus parava, dava atenção e chamava pelo nome.
Deus mesmo faz questão de deixar muito pessoal o seu relacionamento com o seu povo, com a sua gente. Através de Isaías ele disse “Não temas porque eu te remi, chamei-te pelo NOME e tu és meu”  (Isa 43). O criador poderia simplesmente ter nos dado um número, mas não desejou assim, ele queria um relacionamento quente e individualizado. Depois de tudo, ao que vencer será dado uma pedra branca com um novo...? NOME (Apo 2). E eu creio que não haverá nem homônimos nesse caso. Isso é de Deus.

Poderíamos citar muitos, não sei quantos, exemplos bíblicos onde nosso Pai faz questão de se identificar e nos identificar pelo NOME e não apenas NOMES mas nomes com significados. Abrão virou Abraão, Levi virou Mateus. Isaque poderia ser o 001, mas nunca iria fazer referência ao grande sorriso de Abraão pelo seu filho. Talvez tudo isso para nos ensinar que é assim que devemos proceder. Mais importante do que saber quantos Deus tem confiado para que possamos servir é procurar conhecer melhor a quem servimos. Foi pago um alto preço para que nossa identidade fosse resgatada e a nós não fosse mais associado um preço, um número ou pior ainda, uma cifra. 
     
O ministério confiado a nós, que nós chamamos de nosso ministério, é focado em nomes e não de números. Hoje somos muito tentados a gerenciar, classificar, e definir tendências no reino de Deus acreditando que de alguma forma os resultados gerados podem ser traduzidos em méritos ou créditos pessoais. Quanto a isso o apóstolo Paulo se referiu aos coríntios que travavam uma certa disputa estatística associada ao fato da existência de grupos dentro da igreja que certamente disputavam entre si algum tipo de prêmio. Talvez do maior grupo, do que crescia mais, do que ofertava mais. As categorias de disputa podem ser diversas. Não me canso de admirar a resposta de Paulo, quando com uma certa indiferença ao fato de seu pioneirismo, simplesmente disse não lembro de quantos batizei (1 Cor 1), quem sabe querendo dizer: Não guardo NÚMEROS só NOMES.
Miguel Levy