quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

RESTITUI, O QUE?




Restitui, eu quero de volta o que é meu!”. O que pretendemos realmente quando nos voltamos para Deus pedindo restituição sobre o que julgamos ter perdido, ou pior ainda, ter sido roubado pelo inimigo? Do que temos saudade? O que ainda esta nos faltando? O que era melhor ontem do que temos hoje?


Voltando um pouco lembramos do que aconteceu com o povo de Israel que após 400 anos de escravidão um dia se viu com o Egito em suas costas, ficando para traz. Na sua frente, havia apenas a liberdade tão sonhada e a possibilidade de viver em uma terra prometida por ninguém menos se não o próprio Deus. Mas em um determinado momento o que vemos o povo fazer? Poderiamos nos deparar com o povo buscando a Deus para poder vencer os novos desafios do futuro de liberdade que Deus havia preparado para eles... no entanto, vemos o povo saudoso, lamentando a falta de pepinos, cebolas e alho que tinham “de graça” no Egito (Números 11). Algum compositor inspirado naquela época poderia cantar: “Restitui, eu quero de volta o que é meu”. Alho e cebola causavam saudade ao povo diante de um alimento vindo dos céus, preparado de forma balanceada por nutricionistas celestiais para suprir suas necessidades naquele tempo. Peixe acebolado temperado com alho silvestre, regado ao molho de melões e pepinos talvez fosse uma boa opção para um povo escravizado que via em um prato de comida um troféu diante de tão poucas opções de um futuro como escravo. Mas um povo chamado ao desafio de ser livre deveria no mínimo ousar encarar uma nova dieta.
Quando entregamos a nossa vida a Deus e o convidamos para habitar em nós e gerir nossa vida conforme sua vontade, devemos estar prontos a aceitar todas as mudanças que ele fará em nossa vida, acreditando que tudo o que vem dele é bom (Tiago 1) e que ele é sabe o que é melhor para nós (Prov 16). Temos a mania de dizer que entregamos a vida a Deus e nos comportamos como se Deus fosse apenas o ser poderoso disponível para viabilizar nossos desejos. Uma espécie de gênio da lâmpada. Na verdade quem deve decidir e agir sobre nossa vida? Nós ou Ele?
Quando vemos essa busca angustiante por restituição revelando tão grande sentimento de perda pelo que ficou para traz, somos levados a meditar sobre alguns pontos apresentados na Palavra de Deus. Paulo disse aos Romanos (11:29) que os dons, as dádivas, os presentes que Deus nos dá são irrevogáveis. Ele não toma nem tira de volta. Paulo disse que havia atingido um nível de maturidade espiritual e explicava isso porque não atentava mais para as coisas visíveis, que são passageiras, mas para as invisíveis, que são eternas, e não são perdidas, permanecem. Pedro disse em sua segunda epístola (1:3) que já recebemos de Deus TUDO o que precisamos no que diz respeito a vida e a piedade. Tudo o que Deus tem colocado em nossa vida, que é uma vida plena e abundante, está oculto, escondido, guardado junto com Cristo em Deus (Col 3:3). Ninguém pode roubar ou perder o que está nesse lugar.
O que foi perdido, roubado ou deixado para traz que nos faz tanta falta ao ponto de não percebermos a realidade redentiva de Cristo em nossa vida que revela a vida plena que Deus nos proporciona onde somos realizados e completos em Cristo. O apóstolo Paulo enfrentando mais um dos muitos momentos difíceis onde cantou “Restitui, eu quero de volta o que é meu”, quando sentiu falta do conforto que tivera antes como nobre cidadão romano, da “tranqüilidade” do tempo em que não era importunado por um mensageiro de satanás, ou quando “curado” não sentia o incômodo de um espinho na carne, não foi restituído daquilo que havia perdido e que era propriamente dele. Deus o lembrou que agora ele tinha algo muito superior. Um bem valioso porém invisível, invisível mas eterno. A graça de Deus. Ao dizer: “a minha graça te basta”, Deus afirmava que tudo o que precisamos esta nEle, em Deus. Esquecendo das coisas que para traz ficam, prossigamos... vamos para frente. O que Deus tem para nós é melhor, muito melhor do que o que já tivemos ou experimentamos. A plenitude de Deus esta nEle. A plenitude de todas as coisas é Ele. Cristo foi a revelação visível dessa plenitude na terra. O que mais precisamos se estamos em Deus e Ele É TUDO EM NÓS?
Se Deus nos deu, não perdemos. Se esta em nós, e nós nEle, o inimigo não pode tocar. Se perdemos, se não temos mais, devemos meditar se realmente isso era importante para contribuir para o nosso amadurecimento e crescimento em Cristo. Se nos entregamos inteiramente a Deus, damos a Ele autonomia para ajustar nossa vida ao seu padrão.
Talvez não tenhamos mais peixe acebolado com alho silvestre, mas com certeza nosso Deus não nos deixará morrer. Ele quer apenas que experimentemos um tempo de inteira dependência nEle. Aprendizado faz parte do processo de amadurecimento. Controlar a ansiedade nesse tempo é nosso grande desafio. Aparentemente, visivelmente, o maná não parece melhor do que alho e cebola (para os que apreciam alho e cebola), mas depois do maná virá sempre alguma coisa melhor. Deus não conserta o velho, ele cria o novo. Davi não pediu para Deus consertar seu coração velho, ele disse: “cria em mim, Senhor, um coração novo.”
Se foram necessários dois homens para carregar um cacho de uvas na terra que Deus havia prometido ao povo de Israel, imaginem o tamanho das cebolas que o povo comeria se tivesse esperado e confiado em seu Deus?
A fé consiste em acreditar no que não se vê (que é eterno) e não no que se vê (que é passageiro). Fé para buscar e pedir o que se perdeu pode não ser fé, mas talvez melancolia. Isso tira nosso foco do futuro glorioso reservado por Deus a todos nós e nos impede de sermos surpreendidos a cada dia pelo que Deus tem a nos revelar.


Minha oração hoje é: “Pai, o que eu vivi, vivi. Podem ter sido bons mementos para aquele tempo, mas hoje eu quero o que tu tens pra mim que eu nem mesmo sei o que é, mas sei que é bom, é perfeito, é agradável, é de boa fama porque vem de ti, e é para hoje. Para viver o que tu queres que eu viva hoje. Eu prefiro o TEU maná de hoje do que as MINHAS cebolas de ontem.
Miguel Levy

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