domingo, 10 de março de 2013

Leia o Manual


Miguel Levy

Ainda é comum encontrarmos em nossas gavetas e prateleiras aqueles manuais dos eletrônicos que compramos, como telefones, aparelhos de TV, blu-ray e tantas outras coisas que depois de algum esforço conseguimos adquirir. Compramos, levamos para casa, abrimos a embalagem e já estamos procurando o botão de ligar. Tudo o que queremos é começar a usar o produto. Afinal de contas foi para isso que compramos não é verdade?

O fato é que pouca gente lê os manuais antes de começar a utilizar os produtos. Por algum  motivo acreditamos que já sabemos tudo o que precisamos para operar da melhor maneira qualquer equipamento que compramos. O que não é verdade. Passamos todo o tempo sub-utilizando computadores, aparelhos celular, máquinas fotográficas e o mais incrível é que tão logo nos deparamos com uma versão mais recente desses equipamentos já estamos prontos para abandonar aquele que sub-utilizamos para começar a mesma história. É interessante quando pensamos que independente das atualizações que fazemos, continuamos a usar os mesmos recursos em equipamentos cada vez mais sofisticados.

A falta da leitura dos manuais dos produtos que usamos nos leva a operá-los de maneira imprópria, não usufruindo dos benefícios para os quais os seus idealizadores o projetaram e muitas vezes diminuímos bastante sua vida útil em função de sua má utilização. Aí, começamos a reclamar do produto e muitas vezes condenamos produtos excelentes em função de nossa incapacidade de operá-los da maneira correta.

Mas tudo isso é uma analogia para o que desejo meditar agora. Muitas vezes nos vemos na mesma situação. Reclamando de situações onde nos encontramos e não sabemos como resolvê-las e como é de nossa natureza, passamos a responsabilidade do problema no produto para o fabricante. Neste caso, Deus.

Pelo que sabemos de Deus através de sua Palavra, os seus propósitos e planos são perfeitos e destinados ao sucesso, inclusive no que diz respeito a nós. O propósito original de Deus para o homem continua perfeito e revelado sem qualquer tipo de mistério, basta apenas que nós, nos dediquemos a estudar o manual e segui-lo a risca.

Por algum motivo aprendemos em nossa história de vida que Deus seria  responsável pelo trabalho de construção da nossa vida e baseados nesta crença relaxamos nos cuidados em buscar conhecer o coração de Deus e dessa forma entendermos seus planos para nossa vida, quando na verdade Deus providenciou tudo o que precisamos para que construíssemos nossa vida com segurança e dentro do seu propósito.

Encontramos na primeira epístola de Pedro, no capítulo primeiro que já recebemos de Deus tudo o que precisamos para essa vida. E ainda em Lucas seis, Jesus conta uma parábola para nos mostrar que nós somos os construtores de nossas vidas, mas devemos fazê-lo seguindo os seus ensinamentos. Orientados por ele, podemos edificar uma história de vida segura de todas as dificuldades que ele falou que viriam contra nós e que certamente virão.

Ter acesso aos ensinamentos de Deus, ouvi-los, estuda-los e não praticá-los é a maior tolice que um homem pode cometer. Esperar que Deus realize um trabalho que é nosso é um grande erro, pois estaremos fadados a não conseguir o que esperamos, uma vez que Deus tendo estabelecido seus princípios certamente não os mudará, independente do nosso esforço em tenta-lo.

O homem classificado como tolo, não é exatamente o  inoperante, o que não realiza, não empreende, mas sim o que o faz sem seguir os conselhos de Deus. Esperando proteção divina contra as dificuldades da vida acreditando que por ser filho de Deus elas não virão, não edifica uma vida segura o bastante para resistir os vendavais quando eles fatalmente chegarem.

A grande ilusão do homem em acreditar que nunca estará sujeito a todas as mazelas do mundo acaba fomentada pela sua própria teimosia em continuar não seguindo os conselhos de Deus. Em Provérbios vemos o sábio Salomão afirmar que quem insiste no erro depois de muita repreensão será destruído sem aviso e irremediavelmente (Pv 29:1). Então nós podemos explicar porque que do nada nos deparamos com furações, terremotos, tisunamis que sem aviso varrem a terra construções edificadas fora da rocha, sem alicerces e sem qualquer segurança. Nunca estaremos protegidos de tudo isto, mas Deus, através de sua Palavra nos ensina a como vivermos seguros em meio a tudo isto.

Podemos escolher qual será a fonte dos nossos conselhos. Ou ouvimos Deus ou qualquer outra voz. A questão é se estamos direcionando o rumo da nossa vida para um caminho de obediência ou de desobediência aos princípios de Deus, ao seu propósito para nossa vida.

Na carta do apóstolo Paulo aos Efésios, no capítulo cinco, verso seis, vemos a ira de Deus vem certamente sobre os que vivem na desobediência, seguindo o conselhos dos tolos, os mesmos que insistem em edificar suas vidas fora da rocha, dos ensinamentos de Deus (Lc 6:46).

O conselho dos homens sempre são fundamentados no que eles tem como padrão ou referência de ideal e sempre estão limitados ao que podem ver, sentir e experimentar. Por isso sempre são falhos, frágeis e vulneráveis. O nosso padrão de vida ideal nem sempre esta focado na eternidade e sim nos poucos momentos que teremos de existência neste mundo. Mesmo após constatarmos que nossa vida está edificada fora de um alicerce seguro, somos pouco motivados a resolver definitivamente este problema pois quase sempre não estamos dispostos a comprometer o que já construímos. Diante de tal situação, levar este problema para Deus resolver é esperar que ele faça a única coisa certa que certamente ele fará. Preservar nossa vida e destruir tudo o que construímos fora dos seus ensinamentos.

Deus sempre está interessado em nos levar por um caminho de segurança para que possamos cumprir seu propósito. Por isso deixou sai Palavra, enviou seu filho para anunciá-la e derramou o seu Espírito para dar testemunho.

Questionar Deus, ou perguntar onde ele está enquanto tantas catástrofes acontecem no mundo é a postura de quem não o conhece nem busca entender seus propósitos para a vida. Deus está onde sempre esteve cumprindo sua Palavra e seguindo o seu propósito enquanto nós, deveríamos nos empenhar em ler o manual, descobrir qual a melhor forma de nosso funcionamento para que dessa forma possamos viver a plenitude do que Deus planejou para nossa vida com alegria e segurança.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Maquinação dos Jovens




Miguel Levy
Mais um período de carnaval se passou e tive o prazer de poder falar com alguns jovens em retiros diferentes.  Sempre considero um privilégio ainda ser chamado para falar com jovens que de alguma forma consideram importante o que podemos trazer a eles no sentido de esclarecer algumas dúvidas.

O difícil e até certo ponto doloroso e constatar que se tratando de jovens cristãos, atuantes em nossas igrejas, não percebemos um avanço no estado de consciência cristã de nossos jovens. Me refiro a jovens para não deixar mais comprometida a nossa situação como líderes e pastores.

Já perdi a conta de quantos encontros de jovens planejados para com temas inspiradores onde há na programação uma sala de debates, um bate-bola, uma berlinda, uma mesa redonda para dar a oportunidade dos participantes perguntarem um grupo de lideres ou pastores de confiança as mais variadas perguntas que afligem a mente sedenta da juventude em questão. Ao ser convidado para fazer parte do grupo que será sabatinado tenho vivido duas sensações. A primeira é a costumeira tensão sobre a possibilidade de ficar acuado diante de uma bomba que pode surgir em meio as perguntas. A segunda é o alívio no final ao perceber que nos saímos sem nem precisar abrir a caixa de ferramentas. Ultimamente, surgiu a terceira sensação. O desconforto em perceber que nós, líderes e pastores não estamos fazendo o dever de casa com nossos jovens no sentido de leva-los a viver a liberdade proposta pelo evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Podemos preparar o começo da maioria das perguntas em casa e levar impresso sem medo de perder o papel. É PECADO...? ...pircing e tatuagem, ouvir música secular, ficar, ir para balada, tomar umas, namorar com “descrente”. Pode isso? Pode aquilo? Ou o que é pior: Já pode isto...?

O que me incomoda não é o fato de responder as mesmas perguntas mil vezes, nossa função é esta. O que é preocupante é que a maioria esmagadora das perguntas dos jovens sempre é de caráter comportamental, mostrando claramente que a preocupação dos nossos jovens consiste em buscar um padrão de comportamento que garanta a sua aceitação diante da igreja e de Deus. Vemos com isso que ainda estamos longe do que representa o evangelho para o homem. Novidade de vida, nova criação, natureza recriada, salvação.

Ainda estamos ensinando que é através de um personagem que agradamos a Deus, levando as pessoas a buscarem uma lista que possa licencia-los a viver seguindo regras sem qualquer compromisso com a razão cristã, consciência do Deus que é em nós ou entendimento da graça salvadora. Pela falta de tempo a ser dedicado no evangelismo, sim entenda evangelismo como o chamado para moldar o homem ao evangelho, discipulado com comunhão e acompanhamento próximo dos nossos filhos na fé, continuamos exigindo fidelidade cega e irracional a listas de pode e não pode, manuais de conduta comportamental que são atualizados periodicamente, inserindo e retirando coisas conforme a necessidade do momento. Daí a constante dúvida do jovem sobre as atualizações desta lista. Já liberaram a televisão mas incluíram a internet? Não pode ir ao cinema, mas assistir o mesmo filme em casa, pode?

Estamos criando jovens muito eficazes em representar seu papel dentro das comunidades evangélicas que vivemos mas pouco eficientes em cumprir a missão da igreja no mundo.

Talvez por comodismo, estamos promovendo uma mecanização do evangelho reduzindo o sentido da vida cristã a um mero cumprimento de regras, que não levam as pessoas a buscar sua missão como cristãos no mundo, procurando afetar as pessoas com a vida abundante recebida de Jesus.

Estamos levando as pessoas a se ocuparem com elas mesmas na constante checagem de suas listas comportamentais. Nossos jovens tem se isolado da sua responsabilidade em comunicar Cristo, o evangelho, as boas novas aos seus próximos. Me surpreendo ao ver tanta coisa acontecendo ao nosso redor, tantos temas onde a igreja poderia intervir de forma a chamar a atenção do mundo para Deus.

Creio que estamos como um operário que trabalha em uma imensa fábrica, limitando-se apenas a realizar sua focalizada tarefa, mas muitas vezes sem nem ter ideia do que está sendo construído como produto final. Um barco, um carro ou um avião? O que importa? Se somos eficazes em nossa rotina é o que basta.

Não podemos fugir da responsabilidade que está sobre nós, em formar uma igreja de pessoas reais transformadas por Deus para afetar a terra. Conscientes da natureza que temos, convictos da salvação em Cristo e focados na nossa missão como igreja. Apresentar um projeto de redenção para o mundo de hoje a fim de poder sua garantia em Deus na eternidade. Nossa missão é expressar em nosso tempo uma realidade que se consumará na eternidade. Não podemos fazer isto sem uma visão ampla do plano de Deus para o homem. Não podemos fazer isto focados em padrões comportamentais que não refletem transformação de natureza.

Ainda espero chegar em debates de jovens onde as perguntas não serão mais sobre o que posso ou não posso fazer para ser identificado no cenário gospel evangélico, mas como podemos afetar o mundo como jovens cristãos.

Que Deus me dê muitos anos de vida.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Tramoia Contra João Batista




Miguel Levy
Depois de quatrocentos anos de silêncio, Deus novamente começa a falar. Desta vez, através de um homem um pouco estranho para os nossos padrões. João Batista, o filho de Zacarias, que sendo sacerdote tornava seu filho João Batista um sacerdote também. Mas João Batista não era apenas filho de Zacarias, era filho de Izabel uma das descendentes de Arão, o que tornava João Batista o último sacerdote descendente direto da linhagem de Arão, portanto deveria ser o próximo sumo sacerdote. Ele reunia os dois fatores indispensáveis para isso. Além de ser da tribo de Levi, filho de sacerdote, era descendente direto de Arão. A pergunta é: Por que João Batista não estava servindo como sumo sacerdote no templo e sim esbravejando no deserto?

Os romanos descobriram que os judeus não ouviam reis, governadores ou qualquer outra autoridade que não fosse o sumo sacerdote,  por isso decidiram influenciar o sumo sacerdócio para desta forma poder ter influência sobre os judeus. Para isto, encontraram um homem chamado Anás, da linha dos sacerdotes, mas não da linhagem de Arão, um populista que tinha a admiração do povo e o principal, para os romanos, estava aberto a negociações. Segundo Flávio Josefo (A História dos Judeus), os romanos fizeram uma proposta a Anás, e o colocaram como sumo sacerdote e assim Anás tornou-se o primeiro sumo sacerdote de Israel a serviço dos romanos. Este fato foi denunciado no evangelho de Lucas no capítulo 3, quando Lucas faz cita que no décimo-quinto ano do reinado de Tibério César, haviam dois sumos sacerdotes, Anás e Caifás. Em uma leitura rápida do evangelho é fácil passar desapercebido o fato de que  não podia haver sumos sacerdotes, pois apenas um sumo sacerdote era permitido. Anás assumiu o cargo através de uma manobra política para prestar serviço a Roma no templo. Anás passou quinze anos negociando o sumo sacerdócio entre seus cinco filhos e finalmente fazendo o seu genro Caifás sumo sacerdote até ser destronado pelo General Valeriano.

A prova da ilegalidade do sacerdócio de Anás e Caifás foi definitivamente constatada quando mesmo havendo dois sumos sacerdotes, foi através de João Batista que Deus falou quebrando um silêncio de quatrocentos anos, reconhecendo assim a autenticidade do chamado de João Batista (Lc 3:1-3).

Foi por causa desta tramoia que João Batista não foi reconhecido como sumo sacerdote no templo, em vez disso foi para o deserto ser a voz do que clama chamando o povo ao arrependimento, confirmando a profecia de Isaías que referindo-se a João Batista disse que ele seria a voz do que clama no deserto, a voz do Deus que agora não falava no templo, mas no deserto. Deus foi para o deserto e a sua voz era João Batista.

O mais importante é que João Batista não estava marginalizado ou fugindo no deserto por não ter conseguido espaço no templo. Deus foi para o deserto e levou o seu sumo sacerdote com ele. João Batista foi levado pelo próprio Deus para o deserto e foi tratado como um legítimo sumo sacerdote. Como a vestimenta especial do sumo sacerdote estava com os romanos então Deus o vestiu com peles de camelos. A comida sagrada do um sumo sacerdote estava com os romanos então Deus o alimentou com mel silvestre e gafanhotos. João Batista era a figura da indignação de Deus com o homem e mais uma prova de que sua vontade é soberana. Longe do templo, sem as vestimentas sacerdotais, sem cara de sumo sacerdote, o próprio Jesus reconheceu João Batista como o maior de todos os sumos sacerdotes da antiga dispensação, o último da ordem de Arão, pois a partir deste ponto na história, Entraria em cena a ordem de Melquesedeque, da qual haveria apenas um único e definitivo sumo sacerdote, Cristo.

Lembrar este fato é mais uma forma de alertarmos para quem é o nosso Deus, que não está limitado ou condicionado as formas e governos do mundo. Lembrar que o nosso chamado, quando verdadeiramente existe para servir a Deus, nunca será frustrado, mesmo que para os padrões do mundo pareça estranho. O Deus que nos chamou é o único responsável [ara cumprir seus propósitos em nossa vida, assim como fez com João Batista. A única coisas que precisamos é ter fé neste Deus e esquecer os padrões do mundo em relação ao nosso chamado.

Se João Batista não tivesse experimentado a metanóia que tanto anunciava, ele teria sido o mais frustrado dos sacerdotes, uma vez que exerceu seu ministério muito longe dos padrões esperados pelo mundo para um sumo sacerdote. Ele tinha tanta convicção do seu chamado que não hesitou quando precisou confrontar até mesmo reis e poderosos com seus pecados. Seu compromisso não era consigo mesmo, nem com sua reputação no mundo. Seu compromisso era não calar a voz do que clamava anunciando a vinda do messias.
O importante desta meditação é nos fazer lembrar que não importa quantas tramas e conspirações sejam preparadas contra nós, quantos tapetes sejam puxados debaixo dos nossos pés para nos fazer cair, o que precisamos é buscar sempre a renovação da nossa mente para nos desligarmos dos padrões do mundo e esperarmos sempre em Deus, que do seu jeito nos fará viver a sua vontade e assim seremos plenamente realizados. Dentro deste propósito, dos planos de Deus verdadeiramente poderemos dizer que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Até mesmo as tramoias.