segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mergulhe no Evangelho


Miguel Levy

Não é difícil encontrarmos quem de alguma forma questione o porque Deus não torna as coisas mais simples para nós. Por que Deus não acaba logo com a fome, a miséria, com as doenças. Por que não prende logo o diabo e nos deixa viver apenas para adorá-lo. Se nos deixarmos envolver por esse discurso podemos até concordar e nos tornarmos mais uma voz nesse clamor "sedento de Deus". Mas por outro lado também podemos ver que essas mesmas pessoas são acomodadas, despreparadas e pouco conteúdo apresentam, quando nos referimos a Palavra de Deus. Nesse ponto entrendemos que na verdade a grande maioria das pessoas busca apenas uma forma mais fácil de se relacionar com Deus expondo toda a sua pouca vontade de superar os desafios para descobrir mais de tudo o que Deus tem reservado para nós.
No texto bíblico do profeta Ezequiel, capítulo quarenta e sete, vemos o relato de uma visão onde um homem o leva a diversos níveis de profundidade dentro de um rio e tendo mostrado as águas mais profundas o trouxe de volta a márgem. Por morar em uma cidade litorânea e por ter frequentado a praia com certa regularidade, me sinto mais confortável para discorrer nesse tema em um cenário as márgens do oceano Atlântico onde moro.
Posso imaginar o evangelho como o oceano, mesmo o Atlântico que banha o litoral onde vivo, que não é o maior mas com cerca de 106 milhões de quilômetros quadrados já é bem representativo quando comparado a qualquer homem. Ainda hoje nunca foi totalmente explorado e por isso posso me utilizar dele como exemplo.
O relacionamento das pessoas com o oceano pode ser visto de diversas maneiras e todas tem um bom motivo para justificar seu envolvimento. Vamos citar alguns deles.
Em primeiro lugar podemos citar os que admiram o oceano. Passam algum tempo observando, admirando, fotografando e imaginando muitas vezes o que poderia existir naquela imensidão. Muitos desses nem ousam molhar os pés, mas mesmo assim defendem sua admiração como um sentimento genuino e verdadeiro.
Existem aqueles que foram apresentados ao oceano e uma vez que chegaram na praia, deram um mergulho, brincaram nas ondas e decidiram: Não largo mais essa vida. Após essa decisão assmem um compromisso de semanalmente estar na praia usufruindo dessa maravilha que é o oceano.
Outro grupo se aventura nas ondas, em constantes e rápidas viagens que provocam alegria, promovem diversão e uma boa sensação de liberdade. Contudo, requer um pouco mais de ousadia e dedicação para descobrir os segredos de flutuar nas ondas. O mesmo acontece com quem quer ir além das ondas e experimentar a sensação de invadir o oceano em busca da linha do horizonte. Ousam perder o contato com a terra e se deixam levar pelas forças do oceano. Descobrem novos horizontes, que os banhistas da praia nunca jamais entenderão, por mais que se explique.
Há ainda um grupo que além de se deixar levar pela imensidão da superfície do oceano, decidem mergulhar para descobrir o que esta oculto da nossa visão natural, e nessa busca encontram sempre um motivo para mergulhar mais fundo e se surpreender cada vez mais com o que lhes é revelado a medida que tornam seus mergulhos mais profundos.
Deus nos apresentou o oceano e nos deixou na praia. Cabe a nós decidir até onde iremos nesse oceano chamado evangelho. Muitos, muitos mesmo se contentam em religiosamente (falo no sentido literal) todos os finais de semana frequentarem a praia do ovangelho. Se divertem na areia, dão mergulhos rápidos para refrescar, se deixam "derrubar" pelas ondas e quando muito aprendem a surfar para curtir de forma mais "radical" esse tempo. Se encontram no mesmo ponto da praia e já vem com a programação feita. Hora de chegar e hora de sair. Quem gosta de ondas mais fortes, vai para um lado. Quem aprecia ondas mais fracas, vai para outro lado e quem prefere a ausência das ondas, se acomoda em frente ao quebra-mar que ameniza a força das ondas e deixa apenas pequenas marolas chegarem a praia.
Creio que não há nada de errado em se manter na praia por toda a vida. É uma decisão pessoal. Mas é incontestável o fato de que o evangelho de Jesus foi disponibilizado a nós sem qualquer tipo de restrição. Cristo veio abrir todos os acessos aos seus segredos mais profundos. Para isso, basta que entremos e mergulhemos cada vez mais fundo nesse oceano do evangelho. É certo que para isso, com toda certeza teremos que sair do esquema "religioso" e pragmático que nos limita semanalmente a um tempo de contato com o evangelho, pois para ir além das ondas navegar e mergulhar fundo, precisamos  de uma viagem bem maior. Mas é exatamente nesse ponto, longe da praia, sem os pés na terra, totalmente e literalmente envolvido por um abiente sob o qual não temos controle e onde nos sentimos totalmente impotentes, que poderemos experimentar a riqueza da graça de Deus, nos ensinando a viver de forma sobrenatural nesse mundo. Com certeza ninguém volta de uma viagem dessa sem ser transformado, e o mais espetacular é que quando voltamos à praia temos a nítida sensação de que o nosso verdadeiro mundo não é mais aquele e o insaciável desejo de descobrir mais e mais do que o evangelho tem a nos revelar talvez provoque uma inquietação para voltar a novos mergulhos.
 
Assim como no oceano, o evangelho não será alterado ou prejudicado se não decidirmos mergulhar fundo, se deixar levar e receber tudo oque ele pode nos revelar. Nesse relacionamento apenas nossa vida é afetada e mudada. Por isso, para quem vive essa experiência, a praia pode ser muito divertida, mas com certeza não satisfaz mais, e o único motivo que justifique voltar à praia seja convencer tantos outros a mergulhamos juntos nesse oceano que é o evangelho de Jesus Cristo. 

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