sexta-feira, 7 de agosto de 2009

EU SOU DE DEUS

Miguel Levy
É muito bom e até confortável alimentar a idéia de que temos um Deus forte, grande, poderoso que nos chamou para si e que entre outras coisas cuida de nós. A garantia de proteção, livramento e suprimento pode satisfazer nossos pequenos anseios e até justificar nossa devoção e fé em Deus. Se apoiar no que esta escrito em 1 Pedro 2:9 é um grande consolo e motivo de orgulho. Fazer parte de um povo adquirido por Deus. Povo de sua propriedade exclusiva. Isso é uma benção, mas como tudo que vem de Deus, tem um propósito nele.
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” 1 Pedro 2:9

Na epístola de Pedro é muito evidente que o ser geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido não expressam um fim, mas um meio. Uma condição necessária para cumprir um propósito centrado em Deus. Tudo isso é necessário PARA QUE? Para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Um ponto bastaria e poderia encerrar esse assunto sem maiores explicações, fazendo cumprir unicamente o que está escrito. Mas vale a pena meditar e pedir ajuda ao Espírito Santo para que os nossos olhos sejam iluminados e a nossa mente liberta de todo egoísmo e ganância que naturalmente podem nos afastar dos planos de Deus.

É muito comum, baseados em nossos sentimentos naturais, mudar o foco do nosso relacionamento com Deus e sairmos da condição de participantes para, como muitas vezes imaginamos, o centro de tudo. Temos nos iludido com a idéia de que Deus esta ao nosso dispor pronto para viabilizar os nosso propósitos e com esse pensamento passamos a exigir de Deus coisas que muitas vezes podemos até ter mas que não constituem a prioridade nem o objetivo principal de Deus.

Em Mateus 6:25-26 Jesus diz: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”. Em outras palavras, podemos entender que se somos de Deus, assim como as aves, se pertencemos a ele devemos deixar para ele o cuidado com a nossa vida a partir de então.

Em Jeremias 1 vemos Deus expressar que ELE cuida para que a sua palavra se cumpra. Os propósitos de Deus não são sonhos nem possibilidades. São fatos pré-existentes antes mesmo de acontecerem, pois uma vez estabelecidos em Deus, já existem.

Por isso, o quanto antes entendermos isso menos ansiosos e enganados vamos viver. Somos de Deus para... anunciar as suas virtudes. Para que o mundo conheça a excelência moral do nosso Deus. Para sermos suas testemunhas. Por isso Jesus disse: “Se alguém quer me seguir, negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mat 16:11). O cristianismo é renúncia, é oferta em favor de alguém, é consagração.

Negar a si mesmo é ser oferta. É abrir mão de sonhos, propósitos e prioridades, onde o eu dá lugar a nós. Onde o indivíduo deixa de existir pelo bem coletivo. É o sentimento dos irmãos da igreja primitiva que uma vez convencidos do amor de Deus através de Cristo se desposicionavam em sua própria individualidade chegando a abrir mão da posse e da propriedade de seus bens. “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” (Atos 4:32).

Tomar a sua cruz e seguir o caminho de Cristo. É bastante conveniente pensar em cruz como fim, mas para Deus, a cruz é só o começo. É o lugar onde vamos realmente cumprir o propósito sem qualquer tipo de contaminação, interferência natural ou humana, pois naturalmente, ninguém quer estar na cruz.

A caminhada mais difícil de Jesus foi até a cruz, pois sua natureza humana resistia ao sacrifício e a morte. Da mesma forma, todo o embaraço e dificuldades que sentimos em nossa caminhada cristã é produto da nossa natureza humana resistindo a cruz que todos temos que levar e que fatalmente resultará na mortificação dessa natureza para que o espírito recriado com o novo nascimento seja absoluto. Somente quando chegamos na cruz, perdemos o medo. Pois nem a morte pode nos fazer parar nessa caminhada. Na cruz, não temos nada mais a perder, só a ganhar. Só após a cruz, podemos fazer como Jesus, zombando da morte e do seu poder, agora superado.

Pelo que vemos na Palavra de Deus, entendemos que esse processo de aperfeiçoamento, amadurecimento e crescimento espiritual deve ser constante e a medida que avançamos nesse propósito, abrindo mão do que é propriamente nosso, afirmando com mais propriedade “ não vivo eu, mas Cristo vive em mim”, mais perto ficamos do verdadeiro significado de pertencer a Deus, e dessa forma podermos anunciar as virtudes de Deus.

Eu sou de Deus para Deus, não sou de Deus para mim. Nele, por ele e para ele existimos. Devemos ser felizes por poder fazer parte desse plano glorioso. Cooperador do projeto, participante do plano, membro do corpo.
Só quando estou consciente e convertido de que EU SOU DE DEUS é que entro no descanso e apenas contemplo suas obras em minha vida.