terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Tramoia Contra João Batista




Miguel Levy
Depois de quatrocentos anos de silêncio, Deus novamente começa a falar. Desta vez, através de um homem um pouco estranho para os nossos padrões. João Batista, o filho de Zacarias, que sendo sacerdote tornava seu filho João Batista um sacerdote também. Mas João Batista não era apenas filho de Zacarias, era filho de Izabel uma das descendentes de Arão, o que tornava João Batista o último sacerdote descendente direto da linhagem de Arão, portanto deveria ser o próximo sumo sacerdote. Ele reunia os dois fatores indispensáveis para isso. Além de ser da tribo de Levi, filho de sacerdote, era descendente direto de Arão. A pergunta é: Por que João Batista não estava servindo como sumo sacerdote no templo e sim esbravejando no deserto?

Os romanos descobriram que os judeus não ouviam reis, governadores ou qualquer outra autoridade que não fosse o sumo sacerdote,  por isso decidiram influenciar o sumo sacerdócio para desta forma poder ter influência sobre os judeus. Para isto, encontraram um homem chamado Anás, da linha dos sacerdotes, mas não da linhagem de Arão, um populista que tinha a admiração do povo e o principal, para os romanos, estava aberto a negociações. Segundo Flávio Josefo (A História dos Judeus), os romanos fizeram uma proposta a Anás, e o colocaram como sumo sacerdote e assim Anás tornou-se o primeiro sumo sacerdote de Israel a serviço dos romanos. Este fato foi denunciado no evangelho de Lucas no capítulo 3, quando Lucas faz cita que no décimo-quinto ano do reinado de Tibério César, haviam dois sumos sacerdotes, Anás e Caifás. Em uma leitura rápida do evangelho é fácil passar desapercebido o fato de que  não podia haver sumos sacerdotes, pois apenas um sumo sacerdote era permitido. Anás assumiu o cargo através de uma manobra política para prestar serviço a Roma no templo. Anás passou quinze anos negociando o sumo sacerdócio entre seus cinco filhos e finalmente fazendo o seu genro Caifás sumo sacerdote até ser destronado pelo General Valeriano.

A prova da ilegalidade do sacerdócio de Anás e Caifás foi definitivamente constatada quando mesmo havendo dois sumos sacerdotes, foi através de João Batista que Deus falou quebrando um silêncio de quatrocentos anos, reconhecendo assim a autenticidade do chamado de João Batista (Lc 3:1-3).

Foi por causa desta tramoia que João Batista não foi reconhecido como sumo sacerdote no templo, em vez disso foi para o deserto ser a voz do que clama chamando o povo ao arrependimento, confirmando a profecia de Isaías que referindo-se a João Batista disse que ele seria a voz do que clama no deserto, a voz do Deus que agora não falava no templo, mas no deserto. Deus foi para o deserto e a sua voz era João Batista.

O mais importante é que João Batista não estava marginalizado ou fugindo no deserto por não ter conseguido espaço no templo. Deus foi para o deserto e levou o seu sumo sacerdote com ele. João Batista foi levado pelo próprio Deus para o deserto e foi tratado como um legítimo sumo sacerdote. Como a vestimenta especial do sumo sacerdote estava com os romanos então Deus o vestiu com peles de camelos. A comida sagrada do um sumo sacerdote estava com os romanos então Deus o alimentou com mel silvestre e gafanhotos. João Batista era a figura da indignação de Deus com o homem e mais uma prova de que sua vontade é soberana. Longe do templo, sem as vestimentas sacerdotais, sem cara de sumo sacerdote, o próprio Jesus reconheceu João Batista como o maior de todos os sumos sacerdotes da antiga dispensação, o último da ordem de Arão, pois a partir deste ponto na história, Entraria em cena a ordem de Melquesedeque, da qual haveria apenas um único e definitivo sumo sacerdote, Cristo.

Lembrar este fato é mais uma forma de alertarmos para quem é o nosso Deus, que não está limitado ou condicionado as formas e governos do mundo. Lembrar que o nosso chamado, quando verdadeiramente existe para servir a Deus, nunca será frustrado, mesmo que para os padrões do mundo pareça estranho. O Deus que nos chamou é o único responsável [ara cumprir seus propósitos em nossa vida, assim como fez com João Batista. A única coisas que precisamos é ter fé neste Deus e esquecer os padrões do mundo em relação ao nosso chamado.

Se João Batista não tivesse experimentado a metanóia que tanto anunciava, ele teria sido o mais frustrado dos sacerdotes, uma vez que exerceu seu ministério muito longe dos padrões esperados pelo mundo para um sumo sacerdote. Ele tinha tanta convicção do seu chamado que não hesitou quando precisou confrontar até mesmo reis e poderosos com seus pecados. Seu compromisso não era consigo mesmo, nem com sua reputação no mundo. Seu compromisso era não calar a voz do que clamava anunciando a vinda do messias.
O importante desta meditação é nos fazer lembrar que não importa quantas tramas e conspirações sejam preparadas contra nós, quantos tapetes sejam puxados debaixo dos nossos pés para nos fazer cair, o que precisamos é buscar sempre a renovação da nossa mente para nos desligarmos dos padrões do mundo e esperarmos sempre em Deus, que do seu jeito nos fará viver a sua vontade e assim seremos plenamente realizados. Dentro deste propósito, dos planos de Deus verdadeiramente poderemos dizer que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Até mesmo as tramoias.