sexta-feira, 27 de julho de 2012

Deus não conserta, Ele faz Novo


Miguel Levy

Não dá para questionar o fato de que a vida cristã é um desafio dos maiores. Viver o que a Bíblia nos orienta parece ser uma constante busca em superar resultados e testar limites. Por isso o apóstolo Paulo fez uma comparação da nossa vida com a de um atleta que corre rumo a um alvo estabelecido a nossa frente, e sabemos que a vida de  um atleta consiste em superar os limites conhecidos e buscar a cada dia estabelecer novos limites a serem superados. Nossa vida cristã é bem semelhante, pois uma vez aprovados em um desafio nos sentimos motivados e fortalecidos para seguir em frente, avançando no caminho que nos foi desenhado.
Meditando um pouco nessa luta diária no sentido de buscar agradar a Deus, obedecer seus mandamentos e manter a vida de fé para agradá-lo me deparo sempre com um fato quase crônico. Nossa insistência em tentar manter vivo o que deve morrer, em tentar recuperar e consertar o que deve ser substituído. Este fato tem retardado a nossa caminhada, desacelerado o processo de amadurecimento e fatalmente, tem nos feito sofrer bem mais do que precisariamos em nossa vida.
Mesmo antes da manifestação da graça salvadora de Deus através do sacrifício redentivo de seu filho Jesus, já vemos alguns exemplos de homens com certo entendimento e orientação do Espírito Santo se expressarem no sentido de uma solução definitiva e com certeza mais fácil que favoreça a comunhão com Deus através de uma vida que possa agradá-lo.
Em uma oração de arrependimento de um homem descrito como seguno o coração de Deus, Daví pediu: "cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito inabalável" (Sal 51:10). A palavra de Deus através do profeta Ezequiel explicando como faria a restauração de Israel foi: "e lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles, e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juizos, e os executem;" (Eze 11:19).
Para mim fica muito claro que para viver o que Deus planejou para nossa vida é necessário que nossa natureza seja transformada, recriada, feita de novo e nova. Sem essa nova estrutura de vida, sem esse novo homem não podemos andar nos estatutos de Deus, guardar os seus juizos nem executar a sua vontade (Eze 11:20).
Parece que o grande problema em nós é que por algum motivo, insistimos em crer que Deus deve transformar o velho homem, consertar nossas mazelas, fazer uma reforma no que já temos; tentar aproveitar uma estrutura já comprometida e em decomposição para com essa estrutura impor esforços que nem na melhor de suas condições poderia suportar. É a mesma coisa de tentar usar a estrutura de um carro velho para colocar uma carcaça diferente e um motor mais potente. Aparentemente as coisas parecem bem mas é certo que em algum ponto do caminho essa estrutura vai falir e nos deixar em problemas.
A Bíblia afirma sem deixar outra interpretação que a proposta de Deus é criar novo, fazer outro, dar uma nova natureza ao homem. E oque fazer com tudo o que já temos? O que fazer com o velho homem? A resposta é mais clara e direta ainda: ABANDONAR. Deixar de lado, esquecer, deixar a míngua.
Alguns apegos a nossa velha natureza nos faz tomar algumas atitudes de "misericórdia" com esse velho homem e vez por outra (para não dizer sempre) nos deparamos tentando dar um jeito de mantê-lo vivo e em muitos casos tentar inserí-lo no plano de Deus através de uma reforma ou conserto. Insistimos em dar uma sobre vida a velhos hábitos, costumes e sentimentos e com isso mantemos vivo, muitas vezes em estado terminal, o que deveria já estar morto e esquecido.
Somos impedidos de viver com liberdade a nova e abundante vida que Deus nos deu pelo apego e ocupação com o velho homem que insitimos em não abandonar, e por isso continuamos pensando como antes, agindo como antes e desagradando a Deus como antes. A vida de fé que deveriamos seguir alimentados pela promessa eterna de Deus para nós é contaminada pelo raciocínio carnal que nos lembra de todas as possibilidades e riscos de uma vida gerada e regida pela carne mortal.
Para que vivamos a liberdade da vida de Deus para nós precisamos ABANDONAR o que é velho, e me refiro deixar de lado mesmo, esquecer o velho homem, deixá-lo morrer de fome sem qualquer assistência.
Ainda no livro de Ezequiel encontramos no capítulo dezoito, verso trinta a seguinte orientação: "lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós um coração novo e espírito novo." Pode parecer que isso é coisa do passado, da velha aliança mas quando vamos para a primeira epístola de Pedro capítulo dois, verso um vemos uma transcrição desse texto: "despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuino leite espiritual, para que, por ele vos seja dado crescimento para salvação". Somos orientados a deixar, abandonar tudo o que não é gerado a partir da nossa nova natureza. O velho homem tem que ser abandonado definitivamente. Deixado para tras junto com todas as suas mazelas para que, gerados a partir de uma nova natureza, possamos viver tudo o que se fez novo em Cristo (2Cor 5:17).
Portanto, vamos seguir conscientes de que o plano de Deus é perfeito, viável e muito simples de ser plenamente realizado em nossa vida. Que a fé opera de maneira fácil quando é direcionada no sentido de cumprir os planos de Deus em nós, que consistem em fazer realizar as suas promessas para nós, e essas promessas de Deus são para o novo homem nascido em Cristo e nada dizem respeito ao velho homem gerado na carne e por isso falível e mortal.
Tentar espiritualizar o natural sempre será uma tarefa fadada ao fracasso, as coisas naturais são passageiras mas as espirituais são eternas. Pela nossa fé, cremos que o que se vê é criado a partir do que não vemos. Somos filhos da promessa de Deus e não mais filhos da carne. Após nascermos em Cristo nem deveriamos mais ser reconhecidos segundo a carne (2Cor 5:16) ou pelos frutos gerados pela carne em nosso tempo de pecado. Tentar viver em Cristo buscando salvar o velho homem ou algo que nele ainda nos interesse será sempre um sofrimento e fatalmente um caminho de frustração e luta.
A renovação de mente (Rom 12) é vital para nós, abandonar a cultura de reciclagem que aprendemos e crer no poder criador de Deus em não consertar nada velho, mas criar tudo, absolutamente tudo novo. Creia nisso e viva verdadeiramente uma vida nova em Cristo.