terça-feira, 21 de abril de 2009

Páscoa



Mais um ano em que nós, os cristãos, mencionamos a páscoa em nossas reuniões. Digo mencionamos, pois o que se vê esta longe, bem longe de uma celebração que, na minha opinião, é o que todos nós que acreditamos em Cristo e seguimos seu evangelho deveríamos fazer anualmente.

A páscoa foi instituída por Deus, podemos encontrar em Êxodo 12:1-14 a orientação divina para realização dessa cerimônia para o povo de Israel. O mais importante nesse acontecimento é entender o que Deus quiz nos mostrar com isso. Nada foi por acaso ou sem propósito.

A situação do povo de Deus na época era complicada. Após 400 anos de escravidão, mas estabilizada situação, o povo estava agora vivendo um tempo difícil. Já havia iniciado o processo de libertação que implicava na saída de uma nação de dentro de um país, o Egito, que perderia sua mão de obra barata e certamente comprometeria toda a sua estrutura. As intenções já estavam bem claras. Israel estava disposto a sair do Egito e o Egito, na pessoa do seu faraó, não estava disposto a liberar Israel. De qualquer forma, onde quer que terminasse esse conflito só uma coisa era certa. Esse relacionamento iria piorar, e muito. Se Israel não conseguisse sair do Egito a estável convivência entre senhores e escravos iria se tornar muito difícil.

Só para termos uma visão mais clara desse quadro e de como deveria estar o emocional do povo de Deus, faraó já havia resistido a nove pragas e não parecia disposto a ceder por nada. O próximo passo deveria ser definitivo para os dois lados.

Foi exatamente nesse ponto do conflito que Deus chegou com essa idéia de páscoa (do
hebraico Pessach, significando passagem através do grego Πάσχα). Uma cerimônia cheia de detalhes em meio a um clima tão estressante. Quem poderia pensar nisso agora. Mas tudo o que Deus orientou foi preparando o homem para entender o seu principal objetivo. Revelar Cristo.

Primeira providência, cada um deve tomar para sí um cordeiro macho, sem defeito que deveria ser sacrificado no final da tarde. A sua carne deveria ser comida, e o seu sangue seria uma espécie de marca sobre cada família que acreditou e realizou essa cerimônia. A realização dessa cerimônia livraria as famílias da próxima praga que seria lançada sobre aquela terra, a passagem do anjo da morte sobre o Egito.

Surge uma pergunta. Deus sabia quais eram as famílias de israel e as do Egito? Será que precisaria mesmo ter essa marca de sangue na porta? O escritor aos Hebreus nos afirma que o que aconteceu antes de Cristo, tudo o que foi vivido na época da Lei era apenas um símbolo, uma espécie de representação pedagógica para que pudéssemos ter idéia do que nos seria apresentado. Uma sombra da realidade que seria vivida com a Redenção.

Mas vamos entender a lição. Não foi sem razão que Jesus foi preso, morto (sacrificado) e ressuscitou justamente no período da comemoração da páscoa. O evangelista João escreveu: “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), identificando Jesus como o cordeiro utilizado no último e definitivo sacrifício que selaria a passagem, páscoa, da humanidade da morte para a vida, da condenação pelo pecado para a justificação pela fé, de devedor do diabo a herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo, de um futuro miserável no inferno para uma vida eterna com Deus. Essa é a páscoa que devemos comemorar sempre, pois temos motivos muito maiores e perpétuos. Os judeus comeram o cordeiro do sacrifício, se livraram da vida de escravidão no Egito e depois certamente morreram, Em João 6:51, o próprio Jesus afirmou que quem comesse dEle, da sua carne e do seu sangue, viveria eternamente.

Deus com a instituição da páscoa estava sinalizando que o seu povo deveria aprender a viver por fé nEle, acreditando sempre no Ele diz, sem contestação. O sangue do cordeiro marcou as portas do povo de Israel no Egito abrindo o caminho da passagem para a liberdade. O sangue de Jesus, derramado na cruz, abriu um novo e vivo caminho, garantindo a passagem (páscoa) do pátio, do átrio, de um lugar próximo de Deus para a sua completa intimidade (Hebreus 10:19-20). O grande sinal de Deus em mostrar sua clara intenção em estreitar o seu relacionamento com o homem foi o véu do templo sendo rasgado (Mateus 27:51). A passagem da separação para a intimidade e comunhão. A páscoa do relacionamento.

Mais uma vez citando Hebreus no capítulo oito, podemos constatar que realmente estamos vivendo uma aliança infinitamente superior a antiga, feita com a Lei, e os motivos de comemoração da páscoa para nós, redimidos pelo sangue puro e sacrifício perfeito de Cristo, também são infinitamente superiores.

Enquanto muitos de nós nos consumimos tentando explicar ou justificar o uso ou desuso de coelhos e ovos de chocolates na páscoa, deixamos de enfatizar o que realmente importa na páscoa. Nossos filhos, amigos e irmãos em Cristo devem ser estimulados a celebrar a páscoa entendendo o seu significado e importância para nossa vida, para que dessa forma, esse dia da páscoa possa servir de memória pelas gerações até que Jesus volte, dessa vez não como o cordeiro, mas como o leão, triunfante, que dessa vez nos levará para celebrar a última páscoa, chamada bodas do cordeiro, a grande festa que nos levará de forma definitiva a condição que Deus planejou para nós. Será mais uma passagem, uma páscoa.

Miguel Levy